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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Alimentação na gestação e lactação

Ao longo dos últimos 150 anos ocorreram alterações significativas no ciclo de vida da mulher. A diminuição da idade média para o estabelecimento da menarca aparentemente se estabilizou em torno de 12,5 anos. A idade média da menopausa é maior que 50 anos. Consequentemente, a faixa do potencial reprodutivo foi ampliada para 40 anos, para uma expectativa de vida de 75 anos para a mulher.

A maior e mais constante disponibilidade e qualidade dos cuidados pré-natal e obstétrico têm produzido uma tendência descendente na mortalidade perinatal e de lactentes (MacGanity et al, 2003). Sendo assim, a avaliação do estado nutricional pré-natal atual tem por objetivo:

· Para a mãe: reduzir o risco de desenvolver complicações durante a gravidez e no pós-parto
· Para o lactente: desenvolvimento, idade gestacional e peso ao nascer adequados (MacGanity et al., 2003).

Avaliação nutricional da gestante

O cuidado obstétrico geral necessita, na visita inicial, de uma avaliação minuciosa da gestante e de um histórico cuidadoso e completo das características obstétricas e médicas, seguidas de um amplo exame físico (MacGanity et al., 2003). O estado nutricional deve ser avaliado antes da concepção, para garantir a saúde do feto, na infância e na vida adulta. A avaliação do estado nutricional da gestante deve ser realizada por equipe especializada que inclui: obstetra e profissionais da saúde com expertise em nutrição pré-natal e perinatal. Para uma avaliação nutricional detalhada é necessário (Roque et al., 2008):

· Exame físico para buscar evidências clínicas de deficiências nutricionais
· Avaliação da ingestão dietética, através da anamnese e de registro alimentar
· Identificação do uso de substâncias prejudiciais a saúde, como tabaco, álcool e drogas ilícitas. O uso dessas substâncias pode significar risco a saúde da gestante e do feto e, também, aumento dos requerimentos energéticos (Roque et al., 2008)
· Identificar o uso de vitaminas, minerais e suplementos derivados de plantas medicinais: quantidades excessivas de vitamina A (acima de 10.000 UI/d) parecem ter efeito teratogênico e devem ser evitados na gravidez
· Ressaltar a importância do uso de ácido fólico, uma vez que este reduz o risco de defeitos no tubo neural (Roque et al., 2008)
· Identificar a presença de transtornos alimentares que possam afetar a fertilidade, serem agravados pela gestação ou gerar complicações durante a mesma (Roque et al., 2008)
· Realizar o acompanhamento das medidas antropométricas
· Monitorar os exames bioquímicos.

Uso de dietas vegetarianas na gestação

As dietas vegetarianas, particularmente aquelas que excluem totalmente alimentos de origem animal, não atendem às necessidades nutricionais da gestante em quantidades adequadas de aminoácidos essenciais, ferro, vitamina B12 e lipídeos complexos, que são nutrientes essenciais para o adequado desenvolvimento embrionário portanto, quando realizadas, devem ser rigorosamente acompanhadas por médico e/ou nutricionista (Cox, 2008).

Estilo de vida

São componentes importantes de um estilo de vida saudável na gestação:
Ganho de peso apropriado, atividade física específica e monitorada, dieta equilibrada, suplementação de vitaminas e minerais, consumo de alimentos seguros sob o ponto de vista microbiológico, evitando o uso de bebidas alcoólicas, uso do tabaco e de outras substâncias nocivas à saúde.

Para garantir a segurança alimentar é importante adotar práticas adequadas de higiene pessoal, consumo de carnes, peixes e aves sempre cozidos, restringindo o uso de alimentos não pasteurizados e realizando a higienização e sanitização corretas dos hortifrutis (Scholl, 2009).

Ganho de peso na gestação

Existem evidências de que o ganho de peso na gestação, o padrão do ganho de peso e o ganho de peso total relacionado à gestação são fatores importantes e determinantes no peso da criança. É importante ressaltar que o peso ao nascer tem impacto direto na mortalidade e morbidade, afetando também a vida adulta, ou seja, o peso ao nascer pode influenciar futuros riscos de desenvolver diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares.

O ganho médio de peso materno relacionado à gestação pode ser distribuído da seguinte maneira:

· Feto: 3,2 – 3,6 kg
· Gordura: 2,7 – 3,6 kg
· Aumento volume sangue: 1,3 – 1,8 kg
· Aumento volume água corporal: 0,9 – 1,3 kg
· Fluido amniótico: 0,9 kg
· Aumento das mamas: 0,9 – 1,3 kg
· Hipertrofia uterina: 0,9 kg
· Placenta: 0,7 kg.

Recomendações para o ganho de peso na gestação

O Committee on Nutritional Status During Pregnangy and Lactation of Institute of Medicine fez uma análise detalhada de todos os dados relacionados ao peso gestacional, ganho de peso durante este período e o resultado da gestação e baseados nessa análise foram formuladas as recomendações na tentativa de dar condições à mulher de ter um bebê nascido a termo com um peso entre 3 e 4 kg, considerado resultado desejável para o final da gestação. Estudos mostram que o índice de massa corpórea (IMC) pré-gestacional é um importante indicador para o peso ao nascimento, independente do ganho de peso, e se deve utilizá-lo como guia de recomendações.

As recomendações para o ganho de peso durante a gestação são as seguintes:

· IMC < 19,8 = Baixo peso = Ganho peso 12,5 – 18 kg
· IMC 19,8 – 26 = Eutrófica = Ganho peso 11,5 – 16 kg
· IMC 26 – 29 = Sobrepeso = Ganho de peso 7 – 11,5 kg
· IMC > 29 = Obesidade = Ganho de peso de no mínimo 6,8 kg. A literatura não descreve o ganho de peso máximo para mulher obesa.

Componentes da dieta

Calorias: a oferta calórica da dieta é um fator nutricional importante e determinante do peso ao nascer. A recomendação é adicionar ao valor calórico total da dieta 300 kcal/dia no 1º trimestre de gestação e 500 kcal/dia a partir do 2º trimestre (Kaiser, 2008).

Proteínas: o binômio placenta-feto consome aproximadamente 1 kg de proteína durante a gestação, principalmente nos primeiros seis meses. Para atender a essa necessidade, a gestante deve ingerir cerca de 1,1 g Prot./kg/dia.

É importante ressaltar a diferença entre proteína de origem animal e vegetal. Alimentos de origem animal são considerados completos por conter todos os aminoácidos essenciais para suprir as necessidades e reparação dos tecidos. Já alimentos de origem vegetal são incompletos, ou seja, são deficientes em um ou mais aminoácidos essenciais. Essas diferenças podem ser corrigidas utilizando produtos a base de soja fortificados e o consumo de alimentos enriquecidos com aminoácidos essenciais (Kaiser, 2008).

Institute of Medicine. Dietary Reference Intakes: The Essential Guide to Nutrient Requirements. Washington, DC. National Academies Press, 2006.

Lipídeos: a suplementação de ácidos graxos poli-insaturados w3 e w6 durante a gestação e lactação modula o crescimento e desenvolvimento do feto e da criança. Alguns estudos têm mostrado relação entre a ingestão de peixes de água salgada ou óleo de peixe com o desenvolvimento visual e cognitivo da criança. A literatura recomenda 200 mg/dia de LC-PUFAS, que correspondem a três porções de peixe de água salgada por semana (Kaiser, 2008).

Ferro: o ferro é necessário para o desenvolvimento do feto e da placenta, assim como a expansão das células vermelhas maternas. É recomendado aumento do consumo de ferro de aproximadamente 15 mg/dia. Estudos mostram que a suplementação de ferro previne a anemia na gestante (Kaiser, 2008).

Cálcio: o desenvolvimento do esqueleto fetal requer aproximadamente 30g de cálcio durante a gestação, preferencialmente no último semestre. Esse total é uma percentagem relativamente pequena, quando comparada ao estoque de cálcio materno e é facilmente removida, se necessário. A recomendação de cálcio é de 1000 mg/dia, da gestação à lactação (Kaiser, 2008).

Ácido fólico: a suplementação de ácido fólico é recomendada a todas as mulheres em idade fértil que pretendem engravidar, tendo em vista que essa substância diminui o risco de defeitos no tubo neural. O fechamento do tubo neural do feto ocorre entre 18 e 26 dias após a concepção, ou seja, o início da suplementação de ácido fólico deve ser planejado pela mulher antes da concepção. Estudos têm sugerido que a deficiência de ácido fólico pode estar relacionada a várias complicações na gestação e não somente a defeitos no tubo neural. Os requerimentos de folato são elevados na gestação. A recomendação para mulheres na idade fértil é de 400 mcg/dia, aumentando para 600 mcg/dia na gestação, promovendo, assim, o crescimento adequado do feto e da placenta (Tamura, 2006).

Suplementação de vitaminas e sais minerais: os suplementos vitamínicos são recomendados nas situações em que a demanda nutricional não é atendida através da dieta e também naquelas que apresentam riscos para desenvolver deficiências nutricionais, nas seguintes situações:

· Gestação múltipla
· Uso de cigarro e drogas ilícitas
· Adolescência
· Uso de dieta vegetariana
· Deficiência de lactose.

Fonte: Ana Lúcia Salgado Potenza, Michele Leite Oliveira, Sílvia Maria Fraga Piovacari.

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